65% dos que usam remédio contra aids já fizeram sexo sem proteção

Pesquisa com 500 jovens que utilizam a Profilaxia Pré-Exposição ao vírus HIV no Brasil revela comportamento do grupo

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Por Isabela Palhares e Juliana Diógenes
3 min de leitura

Eles transaram com dois ou mais parceiros no ano anterior sem camisinha, se submeteram à testagem de aids no mesmo período e acham que poderão contrair o vírus HIV nos 12 meses seguintes. É similar o comportamento dos 500 participantes da Pesquisa Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) Brasil, que vai avaliar a aceitação, viabilidade e a melhor forma de oferecer um medicamento para prevenção do HIV no País, o Truvada. O estudo, que ainda está em andamento, é restrito a homens que fazem sexo com homens, travestis e mulheres transexuais.

Os dados preliminares obtidos pelo Estado revelam a vida sexual dos voluntários antes de ingressarem no estudo. Para a maioria, é alta a percepção do risco a que estão sujeitos: o medo de contrair o vírus em curto prazo (12 meses) assusta 53,8% deles. Do total, 65% abriram mão do preservativo em pelo menos duas relações sexuais no período de 12 meses.

Bruno de Souza Berti, de 24 anos, é um dos voluntários na pesquisa sobre o remédio Foto:

Do total de voluntários e abordados, 51,2% mostraram interesse e iniciaram o uso do Truvada. Para Beatriz Grinsztejn, pesquisadora do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), o número é positivo e deve ser comemorado. “A pesquisa não é para todo mundo. É interessante ver também que não foi um oba-oba. Esses que se engajaram mais têm uma percepção maior do risco de contrair o vírus, o que mostra que as pessoas certas estão na pesquisa. Não estaremos jogando dinheiro no lixo”, afirma.

Desde o início da pesquisa no País, em abril do ano passado, os selecionados estão tomando o medicamento, que combina dois antirretrovirais em um único comprimido. No total, 986 indivíduos se voluntariaram ou foram abordados após procurar um centro de referência para fazer o teste de HIV, mas parte deles foi descartada por não se enquadrar nos critérios do estudo. O acompanhamento dos voluntários chega ao fim em maio de 2016, quando os pesquisadores vão divulgar a conclusão do estudo.

A pesquisa é limitada a pessoas sob risco aumentado, soronegativos, livres de comorbidades médicas severas, entre outros critérios. O principal objetivo é avaliar o interesse desse grupo em fazer uso diário do medicamento, oferecer segurança do uso da pesquisa com experimentos que complementam os ensaios clínicos e garantir a eficácia da implementação do Truvada no Sistema Único de Saúde (SUS).

O Ministério da Saúde informou que estuda a possibilidade de incluir a sua distribuição no Sistema Único de Saúde (SUS) para ser usado de forma preventiva por pessoas que apresentam riscos elevados de infecção. A decisão depende dos resultados dos estudos da PrEP Brasil que o governo federal está financiando.

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O infectologista Ricardo Vasconcelos, coordenador médico do projeto PrEP Brasil, em São Paulo, disse que o objetivo do estudo não é comprovar se o medicamento funciona como prevenção - já que estudos internacionais comprovaram que se usado todos os dias tem 99% de eficácia -, mas testar a receptividade dos potenciais usuários e se a população brasileira vai usá-lo da forma correta.

Pesquisadores defendem que o Truvada seja mais um método de prevenção da aids e alertam que o uso precisa estar aliado ao preservativo. “Não é a camisinha sozinha que vai resolver a epidemia. Assim como a testagem de HIV e o tratamento dos infectados, que é muito bom, mas também não resolve o problema. O Truvada também não é capaz de resolver sozinho. A forma mais eficaz de controlar a doença é a prevenção casada com todas essas opções”.

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