Rotatividade da equipe é entrave no Saúde da Família

Programa seria mais efetivo se tivesse adesão maior dos profissionais; só 1% dos médicos se especializam

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Por Redação
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SÃO PAULO - Criada para garantir assistência integral à saúde de acordo com as necessidades de regiões carentes há duas décadas, o Programa Saúde da Família (PSF)ainda enfrenta dificuldades. A maior delas é a alta rotatividade dos médicos. A especialização em cuidados da família não é vista como uma carreira de longo prazo.

“O programa trabalha com um perfil típico de médicos jovens, recém-formados, que passam pelo programa para ganhar experiência e depois saem”, diz o professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (EESP-FGV) Rodrigo Soares, que estudou os impactos da estratégia. Atualmente mais de 35 mil equipes atendem aproximadamente 112 milhões de brasileiros, 58% da população do País. Mais de 93% dos municípios contam com o programa. Em 2002, a cobertura era de 31,92%. De acordo com o economista, a ausência de um plano de carreira estruturado justifica a rotatividade dos médicos. “Em cidades maiores o programa atrai mais médicos, mas não no longo prazo”, diz. É o caso de Campo Limpo, na zona sul de São Paulo, com 350 mil habitantes atendidos por 82 equipes de saúde da família e 25 dentistas, que contam com seis núcleos de apoio. “Os médicos permanecem menos tempo que os demais membros da equipe, que é multidisciplinar”, afirma Luciana Morais Borges, gerente de atenção básica do Instituto Israelita Albert Einstein, que trabalha na região. “É uma questão cultural. Não existe história no país de formar médicos com foco em medicina comunitária”, diz a economista. Segundo o relatório de pesquisa demográfica do Conselho Federal de Medicina divulgado em 2013, dos 388 mil médicos brasileiros, pouco mais de 1% são especializados em Medicina da Família e Comunidade. “Esses cursos tem de ser valorizados para que os programas tenham efetividade maior”, afirma Soares. Não só os salários, mas as condições de trabalho podem ser desestimulantes também. As equipes atuam, principalmente, com famílias em situações de vulnerabilidade socioeconômica. “São pessoas que moram em regiões precárias, sem saneamento básico”, diz Luciana.Efetividade. “O programa garante que famílias carentes tenham maior acesso a rede”, diz Mônica Viegas, professora do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que analisou o impacto do programa na redução de desigualdades sociais na rede de saúde de Minas Gerais. “Mas o PSF ainda é um desafio.” Em quase uma década, nos municípios brasileiros atendidos pela estratégia houve redução de cerca de 20% na taxa de mortalidade para doenças isquêmicas do coração e doenças cerebrovasculares. As crianças cujas mães tiveram acompanhamento pré-natal do PSF têm o risco de nascer com baixo peso reduzido em 50%. O programa seria mais efetivo se os médicos criassem vínculos e tratassem as famílias por mais tempo, dizem os especialistas . /B.B.

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